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Thursday, November 18, 2010

Se eu morrer antes de você

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase : "Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!" Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas? Sim??? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe porque ? Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele !

Vinícius de Moraes

Sunday, October 31, 2010

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Eu confesso: sou preconceituoso. Minha opinião de muita gente se viu transformada no momento em que eu descobria em quem votavam.

Depois de oito anos da mais pura baixaria eleitoreira, dos escândalos efusivamente negados, das piadas sujas jogadas na cara do povo brasileiro, os responsáveis foram hoje reconduzidos a mais um termo de quatro anos.

Não que a alternativa fosse espetacularmente melhor; o PSDB é o partido mais burro do Universo, e para mim está claro que não tem condições de governar até que aprenda a assumir o papel de oposição, até que deixe de ser covarde e tenha a coragem de assumir suas posições publicamente, sem medo da popularidade dos outros.

O resultado de hoje é mais um que confirma algo que sempre acreditei ser o caso do Brasil. Não somos um país com vocação para ser líder de coisa nenhuma, muito embora sejamos. Não somos um país com vocação para servir de exemplo para ninguém, muito embora sejamos. Não somos um país de todos, senão meramente uma nação de oportunistas e de cegos.

Claro, generalizo. Há muita gente com discernimento. Entretanto, cabem aqui algumas observações.

Cabe, por exemplo, mencionar que o que ganhou a eleição foi a noção de que os benefícios imediatos são mais importantes que os benefícios a longo prazo. Ficou claro, também, que coletivamente o povo brasileiro não apenas não tem memória (fato notoriamente conhecido) como também escolhe ser cego. E ficou claro principalmente que, "na média", o brasileiro não se importa com mais que o próprio umbigo.

Digo isso porque, para mim, essa é a mais pura verdade; o grosso dos votos da candidata do governo veio de gente beneficiada pelos programas sociais do governo. Não quero entrar no mérito da sua existência; estou meramente explicitando o fato de que a gente beneficiada por esses programas votou na candidata daquele que conseguiu assumir o posto de responsável pela "bonança" por que vem passando. Esses programas, bem ou mal, aumentaram a mobilidade social de muita gente, e, claro, essas pessoas não querem voltar ao nível onde estavam. Aí entram seus umbigos: não percebem que o mesmo programa que lhes sustenta nesse nível é fundamentado no trabalho daqueles que dão duro, já que o dinheiro que alimenta esses programas vem dos impostos que eles não pagam. E o que é pior, esses programas não lhes incentivam a procurar aproveitar a chance e melhorar a própria vida. E essa é a parte triste, porque continuarão patinando no mesmo lugar, agora rotulados como classe média: jogando PS3 numa TV de LCD, mas igualmente ignorantes. Mas piores ainda são os supostos intelectuais que fizeram a mesma opção: esses porque fizeram essa opção conscientemente. Entre esses, artistas, atletas e mesmo professores das melhores universidades do país.

Que uma coisa fique bem clara: não sou contra a mobilidade das classes mais baixas, nem contra seu acesso a itens de alta tecnologia. Nem sou contra as conquistas alcançadas pelo Brasil nos últimos 8 anos. Eu sou contra a apropriação desses fatos como sendo de responsabilidade exclusiva de um único governo, como se as condições iniciais não fossem importantes na determinação do estado de um sistema, por mais complexo que ele seja. De fato, quanto mais complexo mais influentes são as condições iniciais. Sou contra o fato de que se gerou uma crença generalizada no país de que as coisas boas foram conquistas do governo atual; e de que as coisas ruins foram herdadas do anterior, ou simplesmente inventadas pela "turma do contra". E me revolta, a ponto de me deixar sem apetite, o fato de que muita gente engoliu esse papo.

E me enoja, acima de tudo, o fato de que essa gente ter ganho a eleição com o apoio de gente que notoriamente vem chafurdando na lama e no esgoto há pelo menos vinte anos. Lama e esgoto esses que ajudaram a transformar a política brasileira na piada que é hoje.

Outro fator a favor da "hipótese do umbigo" foi a natureza da campanha eleitoral que (teoricamente) se acaba hoje (e que começou lá atrás, na campanha de 2002). Ambos os lados se recusaram a discutir propostas para o futuro do país; ambos estavam mais interessados em atacar com truculência e ignorância o adversário, agindo é claro como nada mais que sintomas daquilo que se passa na sociedade brasileira. Eleitores de um dos candidatos não estavam interessados em programa de governo, senão em jogar lama no adversário. Estavam (estávamos!) tão distraídos se divertindo com isso que não viram a oportunidade de transformar o Brasil de país do futuro em país do presente passar batida. Pior ainda, a candidata que representa a nascente terceira via, o caminho para quem não quer mais nem A nem B, depois que teve resultado surpreendente e positivo no primeiro turno, deixou que isso lhe subisse à cabeça, e resolveu se fechar em seu próprio pequeno mundo de cristal, rezando para que milagrosamente a razão fosse restaurada à campanha. Assim, mostrou seu despreparo e ingenuidade, e independente do resultado da eleição de hoje, torna-se minha a maior decepção com o contexto político brasileiro.

Por mais que as pessoas digam que votam contra certas coisas, independente do que sejam ou se são realmente tão importantes assim, na prática quando há somente duas opções (e não se enganem, num segundo turno há somente duas opções), se você vota contra uma está automaticamente votando a favor de outra. E, quando votamos em alguém, estamos votando não em uma pessoa, mas em um candidato. E um candidato é a soma daquela pessoa, de seu programa de governo, de seu partido e seu projeto de poder, e em todos que a apóiam.

Enquanto as pessoas não tiverem consciência do que seu voto representa, os candidatos e a política continuarão os mesmos. E, enquanto isso, o Brasil seguirá sendo o eterno país do futuro que nunca chega.

Por último, mas não menos importante, de uma forma mais íntima e pessoal o saldo dessas eleições para mim é negativo. Depois de alguma auto-análise percebo que, depois de tudo, sou agora um pouco mais cínico com relação a meu próprio país, e nada poderia ser pior.

Nos resta agora fazermos cada um a sua parte; quem sabe o milagre não vem?

Wednesday, October 06, 2010

Self-inflicted epiphanic subliminal message

Today was a particularly good day for me. The reasons are beyond the scope of this blog, so suffice it to say that an epiphany I achieved today during the afternoon made me understand a lot of the past decade.

I couldn’t really say much here without giving away a lot of things I don’t want to, so I won’t.

Let’s just say that right now I’m going through a very important and delicate process of defining priorities and making very important decisions… while keeping several balls in the air.

This should be interesting…

In other news, I’m going to Buenos Aires again. I left a handful of good friends there and I can’t wait to see them all again.

Tuesday, September 07, 2010

The only thing that never changes is change itself

A month and a half after my last post, here I am with the feeling that it was a much longer time ago that I wrote that quick note about being half-way through with the year. And I still recall the feeling I had at that moment, that I don’t have a home.

Of course I have an address, and a place where most of my stuff is. But that’s not my home. It isn’t where I live; it’s just where my things are, and when I go there I feel more like a visitor than like a resident. The other place where I can get snail mail is ever farther away from being a home: it’s just a convenient place where I go to sleep.

That feeling is stil with me. But, for now, I just need to manage it as best as I can, because that’s the way things are; eventually I will get my own place.

Anyway, even though it’s been barely a month and a half since my last post it feels like so much more for a few reasons. The first and obvious of them is that a lot has happened since then; like my second visit to Europe, for instance, which was amazing. I visited a good friend that I hadn’t seen for years, got to know two beautiful cities, made some very important contacts with amazing people. There were some… mishappenings also, but I’d rather not talk about them. Let’s just say that sometimes certain people completely fail to understand my point of view.

There’s also been a lot of work; a trip to Rome that had to be cancelled; one historical moment when I met an amazing friend who is the bravest person I’ve ever met for doing two PhD’s simultaneouosly. And, more recently, a wonderful trip to Foz do Iguaçu, where the waterfalls presented me with one of the most amazing sights I’ve ever seen.

All in all, I believe this period of my life still has a lot to do with a kind of renovation that had a kickstart almost a year ago, and a great part of my thoughts go in the direction of trying to find my new identity.

Sometimes I wish it never ends.

Sunday, July 25, 2010

Half-way through

Even if I still couldn't manage to write a post here (even though there's plenty of things to write about) at least I finally mustered the willpower to change the layout back to the way it was before I went to Buenos Aires.

One thing I must say, though. At the moment there is not a place I can call home; nowhere seems to be my (0,0,0,0).

There is still almost half a year to go until 2011. Let's see what the next months bring my way...

Sunday, June 20, 2010

Back to the new old life

I’ve had the time of my life in that wonderful city.

The above phrase expresses the core of the last three months: it was one of the most exhilarating periods of my life. When I arrived there, not so many weeks ago, I was not sure of what I was about to find, and I must admit, felt quite anxious about the people I was about to meet.

And then on the very first day all those worries vanished, as I realized that all my experiences would be good in the same measure of how I faced them, after all, as the saying goes, “beauty lies in the eyes of the beholder”. There’s nothing like meeting the right people at the right time.

I had already heard a lot about the city even before arriving there – everyone seemed to have an opinion about it, some of them not even having been there. I promptly ignored all of them, however; I wanted to experience it at my own pace, and in my own way.

The first week actually was one of the best; that time of discovery when everything is fresh and new usually is. It was no different for me, and even more so because at the end of that first week I had met a few very important people and had had a couple of very personal and cathartic experiences that completely changed certain aspects of my life that really needed a stir.

As the subsequent weeks went (actually flew) by I gradually settled down and started to feel at home there; I became used to the feeling of the streets, to the cosmopolitan aura about the “cafés” and parks and to that intoxicating vibe that dwells in the air; it’s not an easy feeling to portray. It is like, even though being a lot smaller than São Paulo, Buenos Aires is just as great, in its own way.

Regarding work, I feel like it was the most productive period of time I have ever had in a very long time. That was possible thanks to a handful of fantastic people I had the opportunity of meeting, work colleagues with knowledge and lots of enthusiasm, in an environment where I have never felt uncomfortable. Some people may disagree with that, but it was really refreshing to be in a different place after six years in the same lab.

I have had more than my fair share of mishaps, to be sure; not easy ones. With little effort I can remember at least four quick, terrifying, adrenaline-filled moments I managed to get through and laugh about later.

There was one thing I didn’t really enjoy, though. It was the constant feeling of saying good bye. For the duration of these months I got to meet a lot of people; and, at some point, I had to say good bye to them. It didn’t matter if they were just going home or moving forward in their journeys: I’m never good at saying good bye. The worse it feels, the worse I react. At some point, however, we need to realize that these moments are a part of life and that eventually we say those words to all.

It is my intention, however, to see you people again, and rest assured that I will. As I said on my last night in Buenos Aires, ”no digo adiós, digo hasta pronto”.

This is my last post in “Buenos Aires edition”. Next time Stairway to Geekiness will go back to the old, plain edition. But it’s never going to be the same.

Friday, June 04, 2010

Parabéns Argentina!

Tá, foi mais um período de silêncio. Não é que eu não tivesse nada a dizer, simplesmente estive bem ocupado.

Mentira.

Houve dois feriados prolongados de Maio pra cá. O primeiro foi o bicentenário da Revolução de Maio (mais sobre isso já já). O segundo foi o aniversário da Comisión Nacional de Energía Atómica, a CNEA, onde estou “alocado” desde março. Esse segundo foi inesperado, porque a princípio a segunda-feira era “ponto facultativo”, mas depois acabaram decidindo “emendar” a terça-feira também. Não fiquei muito feliz com isso não, tenho uma pilha de coisas a fazer bem grande e esse feriado atrapalhou um bocado.

DSC00051

Enfim, de volta ao Bicentenário. Já umas duas semanas antes notei as pessoas começando a pendurar bandeiras azuis e brancas por todo lado. Achei que estava meio cedo pra entrar em clima de Copa, aí lembrei que não estou no Brasil. Era tudo preparação para o aniversário de 200 anos da Revolução de Maio, que é considerada como o estabelecimento do primeiro governo pátrio, em 25 de Maio de 1810. Se fosse pra estabelecer uma analogia, acho que seria com a ida de D. João VI para o Brasil em 1808.

A diferença, entretanto, é que esse aniversário foi muito mais comemorado aqui do que qualquer coisa que tenha acontecido em 2008. Mas, pra ser honesto, não posso ter muita certeza – 2008 foi um ano bem conturbado pra mim e não prestei muita atenção em nada.

Mas enfim: as comemorações aqui foram bem interessantes. A avenina 9 de Julho, por exemplo, esteve tomada de gente nos quatro dias do fim de semana prolongado do 25 de Maio, com vários shows, desfiles, festivais de todo tipo, e até mesmo um campeonato de tango (nada mais justo, em se tratando de Argentina). E eles (os argentinos) se esforçaram bastante pra conseguir que essa comemoração saísse legal. A ponto de os organizadores da festa terem sido mostrados na TV se abraçando em lágrimas no último dia, depois que tudo tinha dado certo. E as pessoas em geral também se esforçaram bastante pra comemorar, por assim dizer. Nesse fim de semana tinha gente na rua até amanhecer todo dia. A 9 de Julho ficou tomada de gente todo dia.

DSC00047 Um dos pontos altos da festa toda foi a reabertura do Teatro Colón. Uma das casas de ópera mais famosas das Américas, foi reaberta numa cerimônia enorme, com apresentação de nada mais nada menos que La Bohème para uma platéia que não incluiu a presidenta Cristina Kirchner, que tivera um desentendimento com o prefeito de Buenos Aires dias antes (é, eles também têm essas coisas por aqui – trata-se da América Latina, afinal de contas). Mas o que foi mais legal mesmo foi a festa do lado de fora. Com shows rolando em outras partes da avenida foi projetado um documentário sobre a história do teatro, com direito a som e tudo. E muita, mas muita gente mesmo assistindo. Isso é algo que eu nunca vi acontecer, nem mesmo parecido. Não somente um espetáculo projetado na fachada de um prédio pra todo mundo ver, mas um documentário sobre ópera – e o povo todo ali, assistindo. Não sei se haveria um público desse no Brasil…

O que me resta agora é fechar as pontas soltas do trabalho, ajustar meus planos para os próximos passos do meu trabalho, e aproveitar meu último fim de semana em terras porteñas. No outro domingo, volto às terras tupiniquins. Francamente, com o coração partido – os últimos três meses foram os mais fantásticos da minha vida. Mas isso é assunto para o próximo post.

Monday, May 17, 2010

Pensamentos aleatórios de BsAs

Já faz mais de dois meses que estou em Buenos Aires. No primeiro mês fiz um post “comemorativo”, basicamente mandando o Banco do Brasil à merda. Neste post de dois meses (consideravelmente atrasado) vou colocar uma série de coisas que pensei em escrever antes mas acabei não lembrando ou achando que não se encaixavam.

A primeira delas é algo que presenciei hoje e que, sincera e honestamente, me deixou ligeiramente estupefato. Estava voltando para casa com algumas compras quando ao atravessar a rua notei um sujeito descendo de uma moto e correndo desesperado. Minha primeira reação foi olhar pro lugar de onde ele tinha vindo, esperando ver alguém correndo atrás dele. Quando vi que não havia ninguém, olhei pra onde ele foi, não muito longe: do outro lado da esquina uma senhora (já com bastante idade) havia tropeçado e caído no chão, as coisas dela um pouco espalhadas pela rua. Havia duas pessoas, além do cara, em volta dela, perguntando se ela estava bem. O cara não teve dúvidas. Agachou-se, segurou a senhora pelos braços e, num movimento ligeiro porém cuidadoso, colocou-a de pé em um segundo. A moça que estava ajudando havia deixado o cachorro de lado, mas este, bem educado, estava quietinho ali do lado, com o rabo abanando e assistindo a cena, curioso. Mais interessante ainda, o sinal estava verde mas nenhum dos carros sequer ensaiou sair do lugar: todos esperaram que a senhora se levantasse e as pessoas a ajudassem a juntar suas coisas, finalmente acompanhando-a até a outra calçada (o sinal estava verde para a rua que ela estava atravessando). Ninguém buzinou, ninguém acelerou em falso. Me lembrou uma vez que eu estava atravessando uma rua em plena Cidade Universitária, na faixa, com sinal fechado para os carros, e o motorista só pra ser engraçado acelerou em falso como se fosse sair com o carro. Igualzinho…

Outra coisa interessante sobre Buenos Aires: as empresas de ônibus. Em São Paulo há um problema sério com elas porque elas são enormes, formam lobbies e assim controlam o sistema de transporte. Em Buenos Aires a coisa é diferente, porque todas as empresas são pequenas. As maiores empresas são responsáveis por duas ou três linhas no máximo. Ao ponto de a maioria delas se chamar simplesmente “Linea 42”, por exemplo; isso significa que aquela empresa opera a linha 42. Não sou nenhum economista, nem especialista em transporte, tampouco estou dizendo que esse sistema é perfeito, mas ele certamente funciona melhor que o que há em São Paulo (pelo menos nesse ponto). Nunca fiquei mais de quinze minutos parado no ponto esperando por um ônibus, raras vezes fiquei em pé a viagem inteira, e em apenas uma única ocasião o ônibus me lembrou as latas de sardinha paulistanas. Aliás, por aqui todo mundo usa ônibus e o trânsito só é ruim na hora do rush mesmo.

Outra coisa são as pessoas daqui. Como em todo lugar há coisas boas e coisas ruins a dizer sobre elas, e muitas eu já disse aqui. Uma das boas é que é muito difícil ver uma pessoa obesa. Aliás, pessoas gordas são ainda mais raras. Há pessoas acima do peso, claro; mas no geral as pessoas aqui são magras e obviamente prestam muita atenção ao que comem. As pouquíssimas pessoas realmente gordas que vi eram realmente obesas, daquelas que parecem ficção científica ou saídas de Super Size Me. Isso falando dos argentinos; em lugares com alta concentração de turistas a coisa muda de figura. Curioso, se a gente pensar que a Argentina é a capital panamericana do sorvete e mundial do doce de leite.

Por último mas não menos importante, tenho um pensamento que não tem exatamente a ver com a Argentina pra dividir. Recentemente um conhecido conseguiu a cidadania européia, e prontamente algumas pessoas expressaram a sua inveja pela situação do amiguinho.

Pessoalmente não vejo problema em buscar esse tipo de reconhecimento. Eu mesmo venho procurando conseguir a minha há alguns anos. Mas isso me fez refletir sobre algo que me incomoda já há bastante tempo. Vejo com freqüência as pessoas dizendo que o Brasil é uma merda de país, que não serve pra nada. Que iriam embora sem hesitar à primeira chance que tivessem. É comum as pessoas sentirem mais entusiasmo pela terra de seus avós ou bisavós que pela terra de seus pais.

E, sinceramente, isso é entristecedor. Porque, bom ou ruim, o Brasil é nosso país e tem, sim, suas qualidades. Mesmo que a maioria sejam qualidades inatas, daquelas que a gente já nasce tendo, como o fato de não termos desastres naturais generalizados (terremotos, vulcões, furacões, etc), ou o fato de termos em nosso grande território reservas imensas de diversos recursos importantes, como o Aqüífero Guarani ou a Floresta Amazônica. O país tem muitos defeitos, é claro; mas é um país jovem, e compará-lo a outras terras que já têm milhares de anos de história não é exatamente justo. Quando tinham 500 anos esses países também estavam enterrados na merda.

O mesmo pode ser dito do povo. Pode-se ver, pelo governo que temos, um reflexo do povo que somos; não preciso entrar nesse quesito mesmo porque não teria palavras para descrever a feiúra desse quadro. Por outro lado, não se pode levar somente isso em conta. Muitas das grandes pessoas do mundo são brasileiras. Apesar de todos os defeitos, aqui se trabalha muito. Aqui se produz muita coisa, e isso é fruto do trabalho de muita gente. Aqui há muita gente competente, e a prova disso são os inúmeros brasileiros espalhados pelo mundo. Em muitos campos profissionais brasileiros são disputados a tapa.

Ninguém pediu pra nascer brasileiro, claro. Mas, ainda assim, isso aconteceu. Correndo o risco de ser um pouco metafísico, estamos aqui porque a história correu de tal modo que os portugueses chegaram à América do Sul, colonizaram, expandiram, depois vieram os escravos e imigrantes… até chegar aos dias de hoje. Se algo tivesse sido diferente não estaríamos aqui. Pelo menos isso temos que admitir. Não sei vocês, mas eu prefiro estar vivo a nem sequer ter nascido.

Ter um mínimo de afeição pelo próprio país é essencial para torná-lo melhor. Parte do motivo de o Brasil estar na merda em tantos quesitos é o fato de que muitos brasileiros só sentem orgulho dele quando a seleção ganha. Outros, nem isso.

Wednesday, May 12, 2010

Intermission

Me caguei de rir ao ler essa mensagem que me chegou hoje (reproduzida ipsis literis):

EQUIPE MICROSOFT ® AWARD,
86 WAY MANDELA, ARMS pedreiros,
Southwark, London, SE1 5SE, Reino Unido.
JUNTA DE JOGO DA GRÃ-BRETANHA
PRÊMIO BALLOT LICENSED ONLINE
Prémio Microsoft sede internacional,
Categoria nove (9).
(Inscrição (8110933245).
Registado sob o, o ACT Protecção de Dados.
05 /12 / 2010
Trata-se de informar que você foi selecionado para um prêmio em dinheiro de R $1.000.000,00 (Um Milhão de Libras) de
programas internacionais, realizada em 11 de maio de 2010 em Londres, Reino Unido. O processo de seleção foi realizada
através de sorteio no nosso sistema informatizado de seleção de e-mail (ESS) de um banco de dados de mais de 250 mil
endereços de email, provenientes de todos os continentes do mundo.
Este Prêmio Microsoft Team WINNINGS programas é aprovado pela equipe do prêmio Microsoft e também licenciado pela Associação
Internacional de GamingRegulators (IAGR). O Prêmio Microsoft Team UK (MAT) foi instituído pelo Parlamento Europeu em 1994,
para dar subsídios a uma vasta gama de projectos que envolvam o património local, regional e nacional do Reino Unido. Nós
distribuímos uma parte do dinheiro arrecadado pelo prêmio nacional de boas causas.
Para iniciar o processamento de seu prêmio você deve contactar o seu gestor através de nossas reivindicações de agentes
credenciados Prémio Transferência a seguir indicados:
Sir Brian Washington
86 Way Mandela, armas pedreiros,
Southwark, London, SE1 5SE Reino Unido.
Tel: +44 701 114 0766
Celular: +44 702 403 4925
Email: mat.claims2010@live.co.uk
Contatá-lo, por favor, fornecer-lhe com o seu Número do Lote Lote: 2010MJL-667-01 e seu número de referência REF NO:
MAT/2010-33984512 Você também são aconselhados a fornecer-lhe as informações listadas sob o mais rapidamente possível:
ALEGAÇÕES DE FORMA REQUISITO
1.Name na íntegra ---
2.Address -
3.Nationality -
4.Age -
5. Sexo ---
6.Occupation -
7.Phone/Fax---
8.Present País ---
Adress 9.Email ----
10.Choice da Redenção:
(A) coleta de dinheiro no centro de Redenção, em Londres ----
(B) ao Banco Online ----------- Transferência Bancária
(B) entrega Cheque Wiining Por -------------- Courier
Se você não contato com o agente alega no prazo de 7 dias úteis da notificação, os ganhos seriam revogadas. Nossos vencedores
são asseguradas as normas máximo de sigilo e anonimato de imprensa até o final do processo, e além de onde eles assim o
desejarem. Os vencedores são aconselhados a manter seus dados vencedor / informação do público para evitar a alegação de
fraude
(IMPORTANTE) enquanto se aguarda a transferência de crédito / por Winner.
NOTA: Qualquer pessoa com idade de 18 anos é automaticamente desqualificado. Toda a correspondência devem ser enviados T0:
mat.claims2010@live.co.uk
Lembre-se, ganhando em todos os Esta terceira categoria não deve ser pedida até 24 de maio de 2010. Para evitar atrasos
desnecessários e complicações, citar o seu número de referência / lote em qualquer correspondência com a gente ou nosso
agente designado. Parabéns mais uma vez!
Fielmente,
Mr. Neil Bridge (MBE),
Coordenador Zonal.
Microsoft Team Promotion
Copyright © 2010 Prêmio Microsoft Promo /. Todos os direitos reservados.

Sunday, April 25, 2010

BsAs, HKI e NYC

Tempos atrás o meu destino mais desejado no exterior não era outro senão Nova York. A Big Apple sempre foi um dos lugares que eu mais quis conhecer. Mas, de uns tempos pra cá, essa prioridade acabou mudando bastante. No fim das contas o lugar que acabei conhecendo primeiro (descontando aeroportos) foi Helsinki.

Talvez fosse o impacto de estar do outro lado do oceano, talvez fosse a minha situação na época (que não vem ao caso)… mas a cidade me encantou. Isso não é segredo e a Finlândia me conquistou, independente de lembranças doces e amargas que trago de lá. E motivos não me faltam para que eu sempre queira visitar de novo, em particular um certo ponto em Suomenlinna que é muito especial para mim de uma maneira muito pessoal.

Mas estou me desviando do assunto. Abri este post tentando falar de Nova York por dois motivos. O primeiro é que no fim das contas nunca cheguei a visitá-la; a primeira chance que eu teria (agora em Julho) acabou não se concretizando e por isso a visita vai ficar para mais tarde. O segundo motivo é uma certa região de Buenos Aires.

O bairro onde estou morando, Recoleta, juntamente com Palermo, me lembra muito Manhattan. Agora, antes que aqueles que de fato já estiveram por lá me fuzilem, vou esclarecer uma coisa: muito embora eu nunca tenha estado lá, também não moro numa ilha deserta isolada do resto do mundo. E já vi imagens de lá em inúmeros lugares, como séries, filmes, jornais, e claro as fotos de amigos que visitaram a cidade. Não é a mesma coisa e é uma visão bem limitada, claro, mas dá uma idéia. E a verdade é que acho a Recoleta e Palermo muito parecidos com o que já vi de lá. Ruas quadriculadas, prédios residenciais antigos com cinco ou seis andares, cafés, restaurantes e lojas de todo tipo na rua, avenidas largas e cheias de carros, táxis e ônibus cruzadas por várias ruas menores e muita, muita gente caminhando. Até as entradas das estações de metrô são parecidas!

No fim das contas, estou achando BsAs um pouco menos parecida com HKI (Helsinki). O que de certa forma é natural, já que são cidades não apenas em países diferentes ou nem mesmo continentes diferentes, mas hemisférios diferentes. Mas ainda há algumas semelhanças incríveis, muitas das quais eu já mencionei em posts anteriores. Mas aos poucos as diferenças aparecem, e isso é inevitável, afinal de contas é tudo uma questão de tempo.

Uma coisa é certa. Não sei sobre Nova York, mas tanto Helsinki quanto Buenos Aires me deram experiências que nunca esquecerei. E algumas dessas experiências foram da mesma natureza de uma forma quase fantasmagórica. Talvez seja isso que deixe essas cidades tão próximas uma da outra.

Ainda quero conhecer Nova York e os EUA. E sei que, eventualmente, se o turismo não me levar à América do Norte algum congresso vai. Mas, por enquanto, ainda tenho quase dois meses de Buenos Aires e muita coisa pra ver. Mas a verdade é que vou estar sempre pensando nos meus próximos destinos.

Saturday, April 17, 2010

Argentinos e Brasileiros

Voltando à programação normal, queria falar mais um pouquinho de impressões que tive aqui no dia-a-dia. Originalmente o assunto de que eu queria ter falado no post completando um mês em Buenos Aires!

Uma coisa que pra mim ficou evidente muito cedo é que é uma coisa visitar um país por alguns dias e outra completamente diferente passar um período mais extendido de tempo nele.

Quando se passa somente alguns dias o cronograma geralmente é meio apertado: ou se está meramente a passeio e a vontade é ver o máximo possível já que o tempo é limitado ou então se vai a trabalho e aí o negócio é tentar ver pelo menos alguma coisa no tempo livre que se puder conseguir.

Quando a situação muda de figura e a gente se vê em algum lugar por alguns meses (ou mais, né @AlePacini? ;]) o risco é outro: deixar de visitar lugares pensando “posso ir mais tarde, vou ter tempo pra isso depois”. Esse risco é sério, afinal de contas quando a gente vê o tempo correu e não temos tempo pra ver nada; aí acabamos caindo na situação anterior.

Mas quando conseguimos evitar esse risco aí temos uma oportunidade fantástica: aproveitar ao máximo cada atração que quisermos, se a preocupação de sair correndo pra ir ver outra coisa no mesmo dia. Passear sem pressa, sem se preocupar com horário de chegar a outro lugar, nem nada disso. Afinal, há tempo para tudo. Pode-se ir a San Telmo num dia, passear pela Florida (a rua, não o estado dos EUA) no outro… planejar uma pequena viagem a Colonia del Sacramento… enfim, as possibilidades são inúmeras.

Mas a grande vantagem de se passar um tempo mais longo no mesmo lugar não é a chance de realmente aproveitar as atrações do lugar. A grande vantagem é deixar de ter aquela visão limitada à que o turista quase inevitavelmente fica preso quase sem perceber. É poder presenciar o dia-a-dia do lugar. E, assim, vê-lo como ele realmente é, e não apenas o lado dos passeios, festas e turismo.

Um fato curioso por exemplo é que as pessoas por aqui fumam muito. Mais preciso talvez seja dizer que muitos argentinos fumam. Sei lá por quê, mas o fato é que cheguei a ver um motorista de ônibus fumando enquanto guiava. Claro, esse foi um caso extremo; mas, ainda assim, é bem comum ver alguns cigarros ao olhar em volta enquanto se caminha pela calçada.

Outra coisa que notei (na verdade alguém comentou comigo e estou repassando) é que existem dois tipos de argentinos: os europeus e os latinos. Aqui a miscigenação foi menos intensa, e por isso os povos estrangeiros não se misturaram tanto com os nativos. Essa diferença fica clara ao se observas as pessoas nas ruas: parte delas tem traços muito parecidos com os das pessoas dos países andinos: pele mais escura, rosto mais largo cabelo mais escuro e estatura um pouco menor. A outra parte tem traços um pouco mais europeus, com pele clara, rostos mais finos. E, tenho que dizer, os narizes aqui quase sempre chegam na frente. Isto posto, é bom esclarecer que as argentinas não são exatamente mais bonitas que as brasileiras. Tampouco são menos bonitas. A diferença é que a beleza das brasileiras via de regra vem da miscigenação: a mistura genética advinda da grande quantidade de etnias presente no povo brasileiro gera um número enorme de possibilidades, e em uma população de 190 milhões de pessoas algumas dessas possibilidades se concretizam. O caso das argentinas é diferente: elas têm um certo ar de elegância latente, algo que emana naturalmente delas. Em outras palavras, mais uma vez a “vantagem” do Brasil está nos números: quantidade gerando qualidade. As argentinas são mais bem cuidades que as brasileiras, daí vem a beleza delas (o que, na minha opinião, é extremamente atraente). é bom lembrar que isto é uma generalização. Não só conheci argentinas que não se cuidam, mas vi algumas atrocidades caminhando pelas ruas (algumas pessoas por aqui acham engraçado abusar do bronzeamento artificial… ew.). E conheço brasileiras que se cuidam muito bem.

Outra coisa que me chamou a atenção é que aqui as pessoas têm um interesse maior pela política que no Brasil. Por lá me canso de ver gente que se orgulha por “não se envolver”. Aqui as pessoas conversam sobre o que acontece no parlamento, não sobre este ou aquele julgamento. Sejam eles partidários de Cristina Kirchner ou da oposição, eles fazem questão de ter opinião, e discutem o assunto nas rodas de mate ou na mesa do almoço. Não é à toa que o CQC nasceu aqui! A Argentina, senhoras e senhores, não é apática. E é essa a diferença fundamental entre ela e o Brasil. Não sei se isso é um fenômeno recente ou não, mas algo me diz que é. Depois de ter passado os últimos anos aos trancos e barrancos la nación está tomando jeito. E é deprimente ver que não apenas eles mas toda a América do Sul olha para nós procurando por liderança, e nossos líderes fazem amizade com as pessoas erradas. Me disse um conhecido paraguaio: “aonde o Brasil for a América do Sul vai atrás porque ninguém é besta de contrariar”. Espero que o Brasil acorde logo e perceba que está indo na direção errada.

Thursday, April 15, 2010

Primeiro mês

Anteontem completou-se um mês desde que cheguei a Buenos Aires.

Nesse meio tempo conheci muita gente de vários lugares diferentes, conheci muita coisa, experimentei outras. Aprendi muito. Corri riscos. Aprendi com erros do passado, procurei novos erros para cometer. Na verdade, este mês valeu por vários.

Uma coisa é certa - se vier a Buenos Aires, não ache que porque está perto do Brasil o seu banco vai ser de alguma ajuda. Previna-se de todas as maneiras que puder. Aqui há agências de vários bancos que são encontrados no Brasil: Itaú, HSBC, Citibank... mas não conte com usar seu cartão sem antes passar por alguma burocracia. Vá até sua agência, mostre seu cartão (e tenha certeza de que sabem qual tipo de cartão é o seu) e confirme se vai funcionar. Não saia sem a certeza de que está tudo em ordem. Não suponha que simplesmente tudo vai dar certo. Se você é cliente do Banco do Brasil saiba que, ao contrário dos outros bancos (que na verdade são contrapartes argentinas dos brasileiros), eles têm uma agência no Microcentro (San Martin 363, 2° andar) - mas não conte com ela para muita coisa. A menos que te aconteça um desastre, talvez seja uma boa idéia procurar a embaixada de uma vez para pedir ajuda. O segredinho sujo que o BB não conta é que, muito embora haja caixas eletrônicos lá, eles têm o saque desabilitado. Não só isso, mas a agência é corporativa, o que significa que você não vai poder entrar casualmente e pedir qualquer coisa ao caixa. Também é bom saber que se você é portador de um cartão de crédito e algo acontecer ao seu cartão, você estará em maus lençóis. Os carões de emergência que as administradoras mandam nessas ocasiões não são aceitos pelos bancos argentinos - deveriam, mas não são.

Minha dica é trocar seus reais por pesos antes de sair do Brasil e carregá-los em uma doleira. Se você for passar um período de tempo mais longo (como é meu caso), considere a opção de combinar com um amigo para ele te transferir o dinheiro via Western Union caso não seja possível usar seu cartão no exterior. A menos, é claro, que esteja vindo para trabalhar, aí o jeito é abrir uma conta num banco daqui mesmo. Fica a dica.

Eu queria ter feito um post diferente ao completar um mês na Argentina. A verdade é que estou adorando este lugar. Buenos Aires já é uma das minhas cidades preferidas. Meu próximo post será sobre isso. Infelizmente depois do que eu passei com relação a bancos e dinheiro nos últimos dias, achei que era importante dizer essas coisas. É realmente patético o fato de que, em um mês na Argentina, quem mais me ferrou a vida foi uma empresa do meu próprio país. Maldito seja, Banco do Brasil. Maldito seja.

Monday, April 05, 2010

Buenos Aires x Helsinki - round 3

Meu feriado de páscoa se passou, na maior parte do tempo, dentro de casa. Em parte porque o tempo não colaborou muito, e dias nublados favorecem minha preguiça. Ontem, entretanto, o sol apareceu um pouco e resolvi sair pra caminhar um pouco; já fazia algum tempo que eu queria voltar a Puerto Madero e dar mais uma volta por ali.

Depois de almoçar e enrolar um pouquinho acabei saindo de casa e pegando o metrô até a Praça de Maio (onde terminam/começam as linhas de metrô) e fui caminhando até a Puente de la Mujer, que é um dos cartões postais do lugar. Ela foi desenhada para representar um casal dançando tango.

From Chico en Argentina
Atravessando a ponte há uma pequena região com vários prédios corporativos novos, e uma pequena área residencial. Passando por ali tive uma grata surpresa: o Parque Mujeres Argentinas, mais um exemplo de como Buenos Aires é realmente um pedaço da Europa na América do Sul. Um gramado imenso, com muitas árvores e espaços amplos, com pessoas curtindo o domingo de páscoa. Lembrou um pouco o Parque do Ibirapuera, mas sem aquela fixação por funcionalidade - cada pedaço do parque paulistano parece ter sido projetada com algum objetivo específico. Aqui esse não é o caso: trata-se apenas de um espaço amplo e gramado onde as pessoas podem fazer um lanche, jogar bola ou simplesmente tirar um cochilo.

From Chico en Argentina
Dali fui para a Reserva Ecológica Costanera Sur, uma reserva natural "artificial". Digo artificial porque a ilha onde o parque se encontra foi construída com material retirado de prédios demolidos, bem como do desassoreamento do Río de la Plata, durante o regime militar. O lugar foi declarado uma reserva ecológica em 1986 e é o lar de várias espécies selvagens que normalmente não se encontraria em uma metrópole, como salgueiros e acácias e animais como flamingos, garças, patos e papagaios. Mas eu também vi uns preás por ali...
O fato curioso é que isso se encaixa bem com a impressão que tive quando cheguei aqui de que Buenos Aires e Helsinki são cidades parecidas. Buenos Aires tem a Costanera Sur; Helsinki tem Suomenlinna. Claro, há diferenças: no caso finlandês a ilha é natural, e é utilizada já há muitas décadas não somente para propósitos militares mas é considerada uma cidade separada de Helsinki. Entretanto, ambas foram "remodeladas", por assim dizer, para atender a propósitos turísticos e de lazer. Em ambas as pessoas vão passear com cestas de pique-nique, passear de bicicleta, caminhar... enfim, um típico programa de fim de semana, com alguns visuais muito legais (como o da foto acima) e uns pontos realmente muito agradáveis para simplesmente sentar e ficar sossegado, relaxando ou lendo um livro. Suomenlinna, é claro, tem mais atrações e é mais bem cuidada, mas por outro lado estamos falando da Europa, onde as coisas são em geral mais bem cuidadas mesmo - e mais antigas. Isso não torna a Costanera Sur um lugar menos interessante, diga-se de passagem. O lugar é muito bem cuidado, e tem vários pontos excelentes se o que você procura é um lugar sossegado, tranquilo e silencioso, com o som das ondas ao fundo. Mas não é parada obrigatória para quem vem a Buenos Aires.

Suomenlinna, por outro lado, é um must see para quem passa por Helsinki, assim como a feira do porto antigo e a região central da cidade.

Fecho este post com uma foto que tirei com o celular, e que mostra porque os Argentinos têm um excelente senso de humor: o adesivo da janela do metrô com o número de SMS para emergências.

From Chico en Argentina
Kunnes seuraava!

Tuesday, March 23, 2010

Impressões

Venho ruminando este post há alguns dias. A idéia é comparar Buenos Aires com São Paulo, mas em vez de uma comparação direta, vou fazer isso através das coisas que observei até agora.

Uma das primeiras coisas que notei foi a quantidade de táxis nas ruas. É realmente impressionante, para qualquer lado que você olhe dá pra ver pelo menos dois. Eles estão por toda parte. Em ruas mais afastadas do centro eles são menos comuns, mas ainda muitos.

Por falar em ruas, é notável a civilidade do trânsito aqui, certamente bem maior do que eu esperaria de uma cidade do tamanho de BsAs. Quem não está acostumado reclama - dizem que o trânsito é uma bagunça e que andar a pé é perigoso. Certamente não para quem está acostumado com São Paulo. É até meio estranho ver que os pedestres não têm nada a temer ao atravessar a rua quando estão na faixa e o sinal está aberto para eles: os carros param e esperam pacientemente até que seja possível passar. Ninguém reclama, ninguém buzina, quando muito vê-se uma cara feia. Mas eu não arriscaria atravessar fora da faixa ou com o sinal fechado - aí é pedir pra ouvir um monte. Até mesmo os outros pedestres te olham torto. Eu, com minha mania paulistana de andar sempre com pressa, já passei por isso.

Outra coisa notável sobre o trânsito aqui tem a ver com os pedestres. Aqui, como em qualquer lugar, há pessoas que andam devagar, pessoas que andam depressa, pessoas que correm, etc. A diferença é que todas se entendem. Ninguém liga se esbarrar em outra pessoa. É algo que acontece e eles entendem que nem todo mundo anda do mesmo jeito. Já vi gente sair no tapa em São Paulo por muito menos.

Em compensação, é mais difícil respirar por aqui. O ar é realmente mais sujo, muito embora a cidade seja bem menos movimentada. O problema, em grande parte, são os ônibus, que são muitos, velhos e mal-regulados em sua grande maioria. E não têm bilhete único.

Em contrapartida, nunca vi um ônibus sequer lotado a ponto de ninguém mais entrar. As pessoas fazem questão de sair do caminho, ninguém fica aglomerado na porta. E, mesmo que não haja bilhete único, a tarifa é muito barata - custa no máximo 2 pesos (pouco menos que 1 real). Eu disse no máximo porque essa é realmente a tarifa máxima - você paga de acordo com o lugar onde embarca e onde desembarca. É difícil ter certeza se todo mundo realmente paga o que deve, mas a impressão que fica é que ninguém está interessado em levar vantagem.

Aliás, tenho um "causo" pra contar sobre isso. Ontem eu estava voltando para casa e um rapaz notou que havia uma moeda de troco sobrando na máquina (os ônibus só aceitam moedas por aqui). Ele pegou a moeda, chegou pra moça que entrou antes dele no ônibus e perguntou "essa moeda é sua?", e a moça respondeu "acho que não". Os dois discutiram por uns momentos, nenhum dos dois querendo ficar com a moeda, que aparentemente não era de nenhum deles. No fim da contas a moça pegou a moeda e, em vez de ficar com ela, devolveu-a na máquina! Fiquei imaginando como isso teria se desenrolado no Brasil...

E encontrei um pequeno paradoxo por aqui também. Nos bairros mais "nobres" é comum ver as pessoas passeando com os cachorros. Algumas pessoas fazem isso elas próprias, outras preferem contratar "paseaderos" pra fazer isso. O resultado é uma coleção de várias cores, formatos e tamanhos nas calçadas. Como se isso não bastasse, é comum ver alguém jogando lixo no chão. Entretanto, aqui não vejo tantas latas de lixo como em São Paulo. O paradoxo vem agora: tirando as surpresas que os cachorros deixam pra trás, as calçadas aqui são mais limpas que as de São Paulo. Vai entender.

Por enquanto é isso. Não é tudo que tenho pra falar, mas o resto é tema para outros posts.

Hasta luego.

Monday, March 15, 2010

Mais passeio

Hoje saí à tarde de novo pra dar mais uma volta pela cidade, mas dessa vez fiquei mais por perto de casa. Queria dar uma volta pelas ruas próximas pra me localizar, ver como é o trânsito durante a semana, me acostumar com os nomes das ruas, essas coisas. Aproveitei pra ver onde ficam bancos, mercados, lavanderias, essas coisas. Com a minha sorte, é claro q não consegui o que queria no Itaú, vou ter que encher o saco deles pra ver o que há de errado.

From Chico en Argentina


Aproveitei também e fui caminhando até a Praça das Nações Unidas, onde fica um dos monumentos que são símbolo de Buenos Aires, a Floralis Generica, uma gigantesca flor de metal que se abre de manhã e se fecha à noite. Aproveitei pra descansar um pouco debaixo da sombra de uma árvore enquanto observava o movimento (muita gente vai pros parques e se espalha nos gramados, é bem legal).

From Chico en Argentina
Depois disso continuei andando, e aproveitei a proximidade pra visitar o famoso Cementerio de la Recoleta, que é provavelmente o primeiro lugar que os turistas vêem quando chegam aqui. É um lugar realmente impressionante, os mausoléus ali são imensos (várias fotos no meu Picasa) e muito decorados. Mas o mais visitado deles é um pouco mais humilde, e fica um pouco escondido em uma rua mais lateral do cemitério, embora dê pra perceber logo de cara porque sempre tem gente na frente, é o de Evita. É impressionante o poder que esse lugar tem, os argentinos realmente veneram essa mulher.

E agora, chega de passeio por enquanto. Por enquanto, a impressão de que BA e HKI são parecidas continua.

Buenos Aires

Cheguei a Buenos Aires no sábado. Foi tudo tranquilo, o vôo foi bastante sossegado, e cheguei sem problemas até o apartamento onde vou morar pelos próximos três meses. É bastante confortável, espaçoso e as pessoas são amigáveis.

Amanhã é que a coisa realmente começa, pois vou começar a trabalhar (espero) e a rotina vai realmente começar a se encaixar. Até agora tudo não tem passado de um fim de semana de passeio. Pelo menos a rotina do trabalho pode me ajudar a superar o estresse de estar em um lugar completamente diferente, sem pessoas conhecidas por perto.

O que posso dizer depois de pouco mais de 36 horas em Buenos Aires é que, realmente, estou na Europa Sul-Americana. É uma expressão meio estranha, mas bastaram algumas horas de caminhada pelas ruas daqui para eu me lembrar de Helsinki. Talvez seja apenas coincidência, mas a arquitetura daqui é inconfundivelmente européia, e Buenos Aires (assim como Helsinki) é uma cidade litorânea com uma zona portária recheada de parques. Certamente não toda ela, e salvas as devidas proporções. Além disso conheci bem pouco da costa propriamente dita (meu passeio por Puerto Madero foi bem rápido), mas pretendo mudar isso assim que possível.

Claro que tudo isso é apenas minha primeira impressão; conforme o tempo passar vou saber melhor as diferenças e semelhanças entre as duas, e no fim das contas pode ser que eu não ache as duas cidades nem remotamente parecidas. Essa sensação que tenho pode ser simplesmente devida ao fato de eu estar em outro país. Veremos.

Tuesday, February 16, 2010

Life Trek - Boldly Going Where I've Not Gone Before

Passarei os meses de outono em terras portenhas!

Durante os meses de março a junho estarei residindo em Buenos Aires, e com alguma sorte vou colocar aqui algumas notas sobre essa experiência. Quem sabe assim, pelo menos, dou uma justificativa mais honesta à existência deste blog. Não que eu espere receber muitas visitas, mesmo porque blogs sobre a Argentina e Buenos Aires não faltam (é só jogar no Google e você vai encontrar alguns ótimos, como Buenos Aires, queridos, Buenos Aires Dicas e o excelente Cartas Argentinas).

Por enquanto, é isso. Fiquei enrolando pra ver se saía alguma coisa que prestasse para escrever aqui, mas na falta de idéias é melhor não enrolar, senão acabo falando bobagem.

Tuesday, January 05, 2010

Feliz 2010; 2010 Feliz?

2009 para mim acabou oficialmente no início de dezembro, com o fim de uma história desgastante e complicada cujas origens ainda são nebulosas, e que provavelmente permanecerão assim. O detalhes dessa história merecem não ser contados aqui, mesmo porque trata-se do tipo de informação que está a salvo do caráter expansivo e intrusivo da Internet pelo menos até que Gaia se torne Galaxia.

Comecei o ano passado esperando que, depois do tumulto em que minha vida se transformara na segunda metade de 2008, tudo fosse diferente. Eu esperava que fosse difícil, pois as condições iniciais não eram boas, mas eu esperava que tudo seguisse um determinado caminho. O problema, que infelizmente percebi tarde demais, é que não adianta esperar que tudo mude, porque nada muda, exceto eu mesmo (e, consequentemente, a maneira como vejo o mundo). E, como não poderia deixar de ter sido, isso transformou 2009 em um pesadelo do qual eu não via saída. Passei pelos momentos mais difíceis da minha vida (em todos os sentidos).

A melhor decisão que já tomei foi procurar tirar algum proveito disso. Eu sabia que era a decisão correta a tomar, porque senão todo o sofrimento teria sido em vão, e eu acordaria do pesadelo tendo desperdiçado uma oportunidade que talvez nunca mais se repita. Por isso, fui em frente.

Saí de 2009 fortalecido, muito embora eu queira nada mais que esquecer o ano que passou. Na prática, é claro, isso não vai acontecer. Ele estará marcado para sempre na minha memória. E, de certa forma, isso é bom, pois não somos senão a soma de nossas lembranças.

2010 já começou, e embora eu não queira criar expectativas, sei que será diferente, porque, ao contrário de 2009, eu sei de onde deve vir a mudança.